sábado, 28 de fevereiro de 2009

PATATIVA – Ispinho e Fulô



Texto de Firmino Holanda




(...)

Qualquer tentativa para se classificar Patativa corre o risco de ser restritiva. Não se pode, é óbvio, esquecer que ele é - também - o "poeta camponês". É o rótulo que mais facilmente se tem à mão. Contudo, é necessário, dizer que, por trás deste selo, esconde-se aquela cômoda maneira por meio da qual nossa cultura (digamos, "não-camponesa" e tida por sofisticada) o coloca automaticamente noutro plano, paralelo. Assim, a poética nascida da miséria rural, mesmo quando valorizada pelas elites, deve manter-se distante das acadêmicas antologias literárias. Em meio a jaraguás, rabecas, potes de barro, pífanos, rendas ou mamulengos, os versos dali surgidos são confinados em "reservas culturais" - para onde abnegados folcloristas, vez em quando, se dirigem a fim de fazer o "resgate" das dádivas do saber popular. Mas, postas numa redoma de vidro, tais manifestações acabam asfixiadas pela própria pureza e artificialismo da atmosfera.

Patativa, apesar de tudo, resiste às deformações de interpretação de sua vasta obra. Há quem o compreenda fora das apreciações que buscam o lado pitoresco da cultura. O poeta reproduz - em nível artístico incomum e de ampla ressonância popular - o pensamento mais progressista da maioria dos sertanejos oprimidos. Isto, se generalizarmos o atual estágio de consciência crítica predominante. Seus versos são ainda profundamente enraizados na ética e no sentimento de justiça cristãos; revelam o ceticismo do povo diante da hipocrisia reinante na sociedade que o oprime.

Quem quiser compreender o nordestino, e trabalhar junto com ele, terá de mergulhar em seu universo, compartilhe ou não de seus princípios, que vão além de certas idealizações. A realidade ainda é esta. Patativa do Assaré realiza sua reflexão crítica da História, do momento que vivencia, em rica poesia (matuta ou não) que fala de trabalho, amor, natureza, política, costumes etc. Seus versos oferecem - e "Ispinho e Fulô" é exemplo disto - a argamassa humana que, freqüentemente, falta às teses sociológicas mais bem intencionadas.

Patativa do Assaré é um gênio.

Fortaleza, 1987

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